Aparentemente, de modo esquemático, parece sobressair no interior dessas concepções uma probabilidade dualista de um possível apelo a uma mente sã que se pauta por análises racionais da vivência humana. Estas análises participam da domesticação de corpos potencialmente insanos com seus impulsos nocivos diante das probabilidades de alegria oferecidas na vida moderna.
O prêmio para esse esforço seria alcançar a maior longevidade (com vitalidade) possível. É preciso situar que isto se oferece no interior do capitalismo globalizado neoliberal com seus cânones relativos à independência de seleção, certo de decidir e proposições sustentadas pelo individualismo metodológico. Esta perspectiva de conhecimento da realidade social considera que os fenômenos sociais são melhor explicados pelas características dos indivíduos compreendidos no fenômeno.
Isto é, toda observação que envolve explicações sociológicas no tema macro deveria, a priori, ser colocada em termos de explicações no assunto micro dos indivíduos e tuas ações. Em outras expressões, o paradigma se configura pelo sujeito autônomo e responsável apto de marcar relações de custo/privilégio (porém que também poderiam ser de ganho/malefício) em tuas ações e trocas diante do mundo em que vive.
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Porém, os efeitos adversos deste modelo – que não são poucos, nem triviais – várias vezes implicam pela dura face da precarização e sofrimento humano de contingentes excluídos. Uma maneira de enfrentar com estes efeitos indesejáveis se apresenta através da patologização do mal-estar. Eventualmente se responsabilizam os indivíduos que não sabem se pautar de maneira adequada às práticas de existência definidas socialmente que não assumem de forma visível sua feição moralista, principlamente no âmbito da saúde.
Para superar com esta problemática, adota-se a estratégia analítica de caráter biopolítico que faz exercício de conceitos filosóficos da Escola Cínica Helênica – como é o caso da parresia – também abordada por Foucault 1 1. Foucault M. Fearless Speech. In: Pearson J, organizadores. Fearless Speech. Los Angeles: Semiotext (e); 2001. ao tratar dos cuidados de si.
O estudo enfoca aspectos morais do autocontrole nas proposições de comportamento saudável na alimentação. Nesta possibilidade, são estudados enredos de vídeo de indicação alimentar disponível pela web que estimula o autocontrole e um seriado televisivo de humor que problematiza a pergunta. Antes de prosseguir, cabem alguns esclarecimentos a respeito do serviço.